Doutor Ricardo Staut

Hérnias

Tudo sobre hérnia abdominal:

Causas, sintomas, tratamentos e cuidados

As hérnias abdominais são condições comuns que afetam milhões de pessoas em todo o mundo, podendo surgir de forma silenciosa ou causar desconforto e complicações importantes. Nesta página, você encontrará um guia completo sobre o que são as hérnias, por que ocorrem, seus principais tipos, sintomas e formas de diagnóstico.

Também abordamos os tratamentos disponíveis — desde a cirurgia convencional até as técnicas minimamente invasivas — e orientações valiosas para o período pós-operatório. Além disso, explicamos como fatores como obesidade, esforço físico e doenças como o diabetes podem influenciar na recuperação e no risco de recidiva.

Explore o conteúdo abaixo, dividido em tópicos com leitura fácil e objetiva, para esclarecer todas as suas dúvidas e tomar decisões mais seguras sobre sua saúde.

Informações e dúvidas sobre hérnias

O que é uma Hérnia Abdominal?

As hérnias abdominais são condições clínicas caracterizadas pela protrusão — ou saída — de um órgão ou víscera através de um ponto enfraquecido da parede abdominal. Esse enfraquecimento muscular permite que estruturas internas se desloquem para fora da cavidade abdominal, formando uma saliência perceptível, geralmente na região da virilha, umbigo ou cicatriz cirúrgica.

Por que as hérnias ocorrem?

  • As causas mais comuns estão ligadas a:
  • Fraqueza congênita da musculatura abdominal (a pessoa já nasce com predisposição);
  • Fatores adquiridos, como:
  • Cirurgias abdominais anteriores;
  • Gestação;
  • Obesidade;
  • Envelhecimento natural;
  • Atividades que aumentam a pressão intra-abdominal (como esforço físico intenso ou constipação crônica).

Prevalência e tipos mais comuns
A hérnia inguinal é a mais frequente, representando cerca de 75% dos casos de hérnias abdominais. Ela afeta aproximadamente 20% a 25% dos homens e até 3% das mulheres ao longo da vida.

Além disso, estima-se que 10% a 15% das pessoas que passaram por uma cirurgia abdominal desenvolvam uma hérnia incisional — aquela que surge no local da incisão cirúrgica, devido à fragilidade do tecido cicatricial.

Principais tipos de hérnia abdominal: saiba como identificar

As hérnias abdominais são caracterizadas pelo deslocamento de órgãos ou tecidos através de aberturas na parede muscular do abdome. Elas podem surgir em diferentes regiões e são classificadas conforme sua localização e origem. Os principais tipos incluem:

  • Hérnia umbilical – ocorre na região do umbigo e é comum em adultos e crianças, apresentando-se como uma saliência perceptível na área.
  • Hérnia inguinal – localizada na virilha (região inguinal), é a forma mais comum em adultos, especialmente em homens, podendo causar dor ou desconforto ao esforço físico.
  • Hérnia epigástrica – manifesta-se na parte superior do abdome (região epigástrica), entre o umbigo e o tórax, geralmente associada a fraquezas musculares da parede abdominal.
  • Hérnia incisional – resulta de incisões cirúrgicas anteriores, podendo surgir em diferentes locais do abdome, especialmente em áreas de cicatrização fragilizada.

O diagnóstico precoce e a avaliação especializada são fundamentais para evitar complicações. O tratamento cirúrgico é frequentemente indicado para correção definitiva da hérnia e alívio dos sintomas.

Por que ocorrem as hérnias?

As hérnias ocorrem, essencialmente, porque existem áreas de fraqueza na musculatura da parede abdominal.

Umbilical – A passagem do cordão umbilical pela parede abdominal determina uma região de fraqueza no umbigo, predispondo a ocorrência de hérnias nessa região, sabidamente a prematuridade e desnutrição favorecem seu aparecimento;

Inguinal – No desenvolvimento fetal, os testículos começam a se formar no abdômen do feto e, normalmente, descem para a bolsa escrotal antes do nascimento, A passagem do testículo ocorre através de um canal que se fecha em condições normais após a descida do testículo, a ausência de fechamento ou a fraqueza nessa região favorece a ocorrências das hérnias inguinais;

Epigástrica – A passagem de vasos sanguíneos através da linha média da parede abdominal, acima do umbigo, determina pontos de fraqueza, local de ocorrências das hérnias epigástricas;

Incisional – As incisões realizadas em cirurgias representam áreas de fraqueza na parede abdominal, que associadas a repouso incorreto, ganho de peso, crises de tosse, constipação e outro fatores podem evoluir com as chamadas hérnias incisionais.

Quais os sintomas?

O quadro clínico de um paciente com hérnia abdominal geralmente é referido como um aumento de volume localizado, em geral após esforço físico, causando abaulamento na parede, ou seja, percepção de aparecimento de um “caroço”, associado a dor ou desconforto local. 

Os sintomas em geral pioram com o esforço físico, enquanto que tendem a melhorar ao repouso com o paciente deitado.​

Além disso pacientes com hérnias inguinais podem apresentar sensação de formigamento e dores irradiadas para a bolsa escrotal, relacionadas a irritação ou compressão de nervos do canal inguinal pela hérnia.

Como é feito o diagnóstico?

Geralmente o diagnóstico é feito através do exame físico do paciente no consultório e pela realização de exames de imagem como ultrassonografia ou tomografia computadorizada.

A hérnia pode complicar?

Sim, as hérnias podem estar associadas a basicamente duas complicações conforme ilustração acima.

Hérnia irredutível ou encarcerada

Ocorre quando a “a hérnia sai e não volta” ou seja, o conteúdo herniário não reduz (desaparece) espontaneamente e também não pode ser reduzido mesmo mediante manipulação.

Essa situação pode ocorrer devido ao grande volume da hérnia ou devido ao tamanho apertado do orifício herniário. Na hérnia encarcerada ocorre uma redução do fluxo sanguíneo do órgão preso afetado, causando dor na região e lesão dos tecidos. Se o fluxo sanguíneo for interrompido, o quadro agrava-se para uma hérnia estrangulada.

Entre os sintomas da hérnia encarcerada estão:

  • Fortes dores abdominais no local;
  • Náusea;
  • Vômito;
  • Dificuldade para evacuar e soltar gases.

Hérnia estrangulada

O estrangulamento é a mais temida complicação, consiste na hérnia em que o conteúdo (geralmente contendo o intestino) fica estrangulado no orifício herniário, havendo comprometimento do fluxo de sangue, podendo evoluir para isquemia e gangrena. Geralmente, o paciente apresenta dor intensa e se trata de uma emergência cirúrgica.

Os principais sintomas de uma hérnia inguinal estrangulada são:

  • Dor intensa na região;
  • Vermelhidão;
  • Sensibilidade;

Quais os fatores que podem fazer uma hérnia encarcerar ou estrangular?

  • Encarceramentos prévios da hérnia;
  • Esforços físicos como: força para evacuar, atividade física intensa;
  • Aumentos na pressão intra-abdominal como tosse crônica, espirros, gravidez e dificuldade para urinar;

Pacientes com hérnias devem evitar atividades físicas?

Na maioria dos casos é recomendado aos pacientes que evitem esforços físicos importantes como levantar peso, exercícios de abdominal, pilates, etc.
Outras atividades, como corrida e práticas de esportes (futebol, tênis, natação etc), geralmente podem ser realizados desde que não causem sintomas.
Lembrando que a orientação de restrição de esforço é recomendada visando evitar complicações.

Qual o tratamento das hérnias?

​​Por se tratar de um orifício (“buraco”) na parede abdominal, a única opção de tratamento é o fechamento do defeito através de cirurgia.
Hérnias pequenas e assintomáticas, eventualmente, podem ser apenas observadas.
O tratamento com fisioterapia ou mesmo exercícios de fortalecimento abdominal não apresentam nenhum benefício ou melhora das hérnias. 

​​Como é feito o tratamento do ponto de vista cirúrgico?​

​​Tradicionalmente, o tratamento cirúrgico consiste na sutura (costura) do orifício da hérnia.
Entretanto, como existe risco de recidiva (retorno) da hérnia, atualmente, na maioria dos casos, se recomenda o reforço com a colocação de uma tela cirúrgica.
O uso de telas diminui significativamente o risco de recidiva da hérnia, sendo a avaliação com um cirurgião especialista importante para a decisão da análise dos riscos e indicação cirúrgica e uso ou não das telas.

​​Como é o Tratamento Cirúrgico minimamente invasivo da hérnia?​

As cirurgias por “vídeo”, como são conhecidas, estão associadas ao conceito de mínima ou menor invasão/agressão. Nestes casos, a cirurgia é realizada através de pequenas incisões (cortes). As vantagens das cirurgias laparoscópicas são:

  • Menor dor pós-operatória e baixa taxa de complicações pós-operatórias
  • Retorno mais precoce as atividades habituais;
  • Menor risco de complicações, principalmente infecção;
  • Melhor resultado estético.

Entretanto, nem todos os pacientes e nem todos os tipos de hérnia têm indicações de reparo por meio das técnicas laparoscópicas.
A avaliação com um cirurgião especialista é fundamental para o planejamento adequado e escolha da melhor técnica cirúrgica de forma individualizada.

Quais as possíveis complicações da cirurgia de hérnia?​

As principais complicações são:

  • Infecção: as cirurgias de hérnia são classificadas como “limpas”, portanto, o risco de infecção é baixo. São aceitas taxas de infecção de 1 a 2%. Pacientes diabéticos, desnutridos, tabagistas ou portadores de doenças crônicas apresentam maior risco. Vermelhidão e dor local, assim como a presença de secreção, são as manifestações mais comuns. O tratamento com antibióticos geralmente é recomendado. Em alguns casos, drenagem e mesmo uma nova cirurgia podem ser necessários.
  • Seroma/Hematoma: consiste no acúmulo de líquido ou sangue no local da cirurgia. É a complicação mais comum e usualmente se apresenta apenas com aumento de volume local. Na maioria dos casos se resolve espontaneamente. Calor local pode ajudar, enquanto a punção/drenagem está apenas indicada para casos específicos.
  • Dor Crônica: como em muitos casos a sutura do músculo da parede abdominal é realizada, a queixa de dor no pós-operatório é comum, especialmente nas movimentações do abdome. Entretanto, dor crônica (após 3 meses) é infrequente.
  • Recidiva: uma hérnia operada pode reaparecer mesmo muitos anos após a cirurgia inicial. Normalmente, decorre de uma falha no processo inicial de cicatrização – primeiras 6 semanas após a cirurgia.

A utilização das telas na cirurgia diminui significativamente o risco de recidiva. A obesidade é um dos principais fatores associados à recidiva.
Além disso, tabagismo, diabetes, desnutrição, doenças crônicas e pacientes que não aderem corretamente as orientações pós operatórias tem risco aumentado de apresentar recidiva.

Quais as orientações após a cirurgia de correção de hérnias?

Os cuidados podem variar para cada paciente e tipo de hérnia. Entretanto, de maneira geral orientamos que os pacientes podem reassumir suas atividades normais assim que se sentirem aptos, ou seja, sem dor durante as atividades.

  • Em geral solicitamos repouso relativo com possibilidade de realização de atividades de casa a partir do segundo dia sempre evitando a realização de esforços.
  • Caminhadas, saída para realização de compras, dirigir e retorno a atividade sexual solicitamos em média repouso de 10 dias. O fato de dirigir não prejudica a recuperação, entretanto, por questão de segurança pessoal, recomenda-se evitar por esse período.
  • Exercícios exagerados e levantamento de pesos acima de 5kg devem ser evitados por um período de 30 a 60 dias dependendo do caso.
  • O retorno ao trabalho após 15 dias em atividades que não exigem carregamento de peso é razoável e recomendado.
  • Higiene diário com água e sabão, não sendo necessário a utilização de substancias com álcool, iodo, água oxigenada e outros. Lavar, secar bem e ocluir com gazes.
  • É normal que os pacientes apresentem um pouco de desconforto/dor abdominal nos primeiros dias de pós-operatório. Para controle da dor são prescritos analgésicos que devem ser tomados conforme a recomendação.
  • É normal ficar um pouco inchado e/ou roxo ao redor das incisões.
  • É normal vazar um pouco de secreção, principalmente ao redor da incisão da região umbilical.
  • É normal o ritmo intestinal ficar alterado nos primeiros dias após a cirurgia.
  • Os pacientes são orientados a agendar retorno 2 semanas após a cirurgia para reavaliação.

Em caso de qualquer sintoma atípico ou mal-estar acentuado os pacientes devem procurar o serviço de pronto atendimento/emergência do hospital em que a cirurgia foi realizada e entrar em contato.

Como a participação do paciente pode ajudar no resultado pós operatório?​

Muitas complicações pós-operatórias podem ocorrer por condições relacionadas aos pacientes e não, necessariamente, pela cirurgia ou técnica cirúrgica realizada.
O cirurgião pode utilizar a melhor técnica, com os melhores materiais e tecnologias disponíveis, entretanto, o resultado pós-operatório pode não ser o esperado, especialmente se o paciente não participar do tratamento.

Fumar altera o resultado da cirurgia de hérnia?​

Sim. O hábito de fumar, além dos diversos impactos negativos à saúde do paciente, piora significativamente a capacidade de cicatrização (o que é fundamental para pacientes operados por hérnia abdominal).

Tabagistas têm aproximadamente 2x mais riscos de infeção pós-operatória e 2x mais riscos de recidiva da hérnia.

Parar de fumar por, pelo menos, 4 semanas antes da cirurgia é essencial para melhorar os resultados. Pacientes que cessam o tabagismo desta forma diminuem o risco de complicações em 45% quando comparados aos pacientes que não tomam esta atitude.

A obesidade pode aumentar o risco da hérnia voltar?

Sim. O aumento da pressão intra-abdominal excessivo que ocorre em pacientes obesos é o principal fator associado a recidiva da hérnia. A perda de peso é recomendada para todos pacientes com obesidade.

A diabetes mal controlada pode aumentar o risco de infecção nas cirurgias de hérnia?

​Sim. Pacientes diabéticos têm de 2 a 3x mais riscos de infecção da ferida operatória. Este risco é diminuindo em pacientes com adequado controle glicêmico.
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